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24/03/2022 às 18h03min - Atualizada em 24/03/2022 às 18h10min

BAIÃO DA FEIRINHA: uma farsa em construção é a nova intervenção cênica da Cia O Grito no Brás

Rafaela Carneiro dirige o grupo em intervenções cênicas e itinerantes pelas ruas do bairro do Brás e na sede do grupo, a Casa Restaura-me, até 7 de abril. Haverá ação na Feirinha da Madrugada

SALA DA NOTÍCIA maria fernanda teixeira
Wellington Ferreira
A Cia. O Grito leva a prática do teatro de rua para dialogar com a história do Brás e seus trabalhadores ambulantes em intervenções urbanas pelo bairro entre 24 de março e 7 de abril. O experimento cênico Baião da Feirinha: uma farsa em construção é a quarta atividade pública do projeto de pesquisa contemplado pela 34ª. Lei de Fomento ao Teatro, Brás: Memórias e (Des)memórias de uma São Paulo Precária. Ação leva a assinatura da atriz e diretora Rafaela Carneiro. O grupo está em residência artística desde 2015 na Casa Restaura-me - ONG localizada no centro do bairro paulistano Brás, que atende por dia mais de 400 adultos em situação de rua, onde mantém sua sede no segundo andar da instituição.

As intervenções ou experimentos cênicos resultam de oficinas de experimentação de técnicas visando a atuação e a criação teatral para a rua e o estudo do tema “gentrificação”. Com foco no processo recente de transformação da conhecida Feirinha da Madrugada no Shopping Feira da Madrugada, o tema se desdobra sobre a repressão e empresarização do comércio de rua no Brás, o que resultaria numa “gentrificação do trabalho popular”.

As intervenções reúnem 11 pessoas atuando – cinco atores do grupo e seis participantes inscritos. A dramaturgia conta no prólogo com versos de Tati Candeia, poeta do Campo Limpo. Na sequência, cenas curtas narram o processo de gentrificação relacionado à Feirinha da Madrugada. De forma teatralizada e com um acento na comicidade, a ação tem um viés documental ao contar narra a história da Feirinha, com detalhamento no valor de R$ 50 milhões da concorrência. Os cinco dias apresentam a mesma intervenção. A novidade da experiência é passar por diferentes ruas. Na Casa Restaura-me o grupo atuará no estacionamento. A característica de enfrentamento se dá por conta de uma das ações acontecer na própria Feirinha da Madrugada.

“Estaremos no próprio espaço que estamos criticando”, aponta Rafaela, comentando que o Brás é um desafio para o grupo. “Não é nada comum ter teatro de rua no Brás, um bairro mais de passagem, sem esta característica.” A diretora ressalta outros aspectos contidos na intervenção:  “As consequências negativas para os trabalhadores que já estavam no local, não conseguiram negociar suas dívidas e acabaram ficando na rua. O Shopping Feira da Madrugada, construído em cima da Feirinha da Madrugada, encontra-se praticamente sem uso, com pouquíssima ocupação”, comenta, enfatizando que a intervenção “tem poesia, música, comicidade e cenas ligadas à expedientes do Teatro Popular e do Teatro Épico Brechtiano”.

A partir de vivências práticas e reflexivas, as oficinas compartilharam ferramentas e procedimentos de treinamento e criação pertinentes à linguagem teatral na rua e em espaços não convencionalmente teatrais. As experiências serão construídas em diálogo com a temática “gentrificação” e com a criação do novo espetáculo da Companhia O Grito. Os exercícios e jogos fazem parte do repertório das experiências e práticas acumuladas por  Rafaela Carneiro ao longo de 20 anos de trabalho na linguagem teatral. A Cia O Grito foi indicada ao Grande Prêmio da Crítica da APCA de 2018, melhores do ano pelo Guia Folha e melhor iluminação pelo Prêmio São Paulo com o espetáculo O Gigante Adamastor.  

Processo de pesquisa – Na mira da Gentrificação

Quando se fala em gentrificação pensamos, costumeiramente, nas pessoas que moram no bairro. Mas você já parou pra pensar se alguém mora no Brás? Essa pergunta já guiou o grupo de artistas em outros eixos dessa pesquisa. Agora, sob a ótica de que a gentrificação também atinge os ambulantes, lojistas e, claro, a população em situação de vulnerabilidade que convive na Casa Restaura-me e no Brás, a Cia O Grito lança seu olhar para essas especificidades do território.Esse tema surge das cinzas de shoppings que misteriosamente queimam na calada da madrugada que antecede inauguração de novos shoppings. Também, no processo de “revitalização” da Feirinha e de ruas pelo bairro com sonhados boulevares. “Infelizmente, presenciamos ações diárias de remoção de barracas e outros pertences pessoais daqueles moravam na rua, próximo a nossa sede. Essas ações aconteceram com maior força após a inauguração de shoppings”, diz Wilson Saraiva.

Prédios são construídos e derrubados a todo instante pelas ruas do Brás, as lojas estão em constante mudança. O bairro tem uma dinâmica toda voltada para a comercialização de vestuários que se inicia na madrugada e se encerra no início da tarde mobilizando continente de consumidores de diversas regiões do país. “Esse potencial de mercado foi criado, em grande maioria, pelas mãos de ambulantes e pequenos lojistas que se instalaram há algumas décadas no Brás. Quando as grandes corporações e o poder público enxergam esse nicho, ele passa a ser cobiçado e disputado pela iniciativa privada acarretando em dificuldades financeiras e até impedimentos legais de permanência dos ambulantes e pequenos lojistas que já ocupavam aquele espaço”, afirma o artista.

Processo de pesquisa – memória como alicerce

A escolha do tema relacionado à memória se deu quando os atores constataram, no processo de pesquisa teatral desenvolvido durante a residência artística, que dentro da Casa Restaura-me a memória é o alicerce de todos os conviventes. “É muito comum que as experiências de vida nesse espaço, sejam narradas pelas lembranças que cada convivente carrega”, afirma o ator Wilson Saraiva. Boa parte das pessoas em situação de rua que frequentam a Casa se organiza para ter algum tipo de renda. As atividades principais desenvolvidas por eles são recolhimento e venda de papelão e latinhas bem como descarregar os caminhões que chegam para abastecer de produtos as lojas do complexo comercial, que é o Brás. A ONG Restaura-me desenvolve atividades de assistência social e convívio para os frequentadores da casa. Há seis anos ocupando e residindo no segundo andar da instituição, a Cia O Grito, que tem um contrato de cessão de espaço com a casa, desenvolve atividades culturais como saraus, oficinas, cursos, intervenções, ensaios, entre outras ações artísticas.

* Gentrificação é um processo de transformação urbana que “expulsa” moradores de bairros periféricos e transforma essas regiões em áreas nobres.

Ficha Técnica

Direção: Rafaela Carneiro. Elenco: Diane Boda, Fulvio Bicudo, Igor Yabuta, João Veras de Carvalho, Junia Magi, Letícia Moreira, Mauricio Caetano, Renato Mendes, Samira Pissinato, Tati Candeia, Wilson Saraiva. Figurino: Karine Lopes. Cenário: Caio Marinho. Direção de Produção: Palipalan. Produção Executiva: Aline Guimarães. Assessoria de imprensa: Arte Plural.
Intervenção ou experimento cênico - BAIÃO DA FEIRINHA: uma farsa em construção:
Dia 24/03, 10h30 - Casa Restaura-me – Rua Monsenhor Andrade, 746, Brás. 30 min.
Dias 30 e 31/03, 10h30 - Estação Brás da CPTM - Praça Agente Cícero, s/n – Brás, 30 min.
Dias 06 e 07/04, 10h30 - Feirinha da Madrugada- Rua Monsenhor Andrade, 987, 30 min.

* Em caso de chuva até uma hora antes do espetáculo, o local da apresentação será a Casa Restaura-me.

"Este projeto foi realizado com o apoio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo - Secretaria Municipal de Cultura"

 
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